quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O casal

Malú gostava de vinho barato. Gostava de se embebedar no sábado, fumar um cigarro e ouvir rock clássico. Aos domingos, antes do sol nascer, ia á praia pra assistir o nascimento do sol e surfar. Em um desses domingos, conheceu Cadu. Cadu era músico independente. Gostava de vinho barato, de lavar os cabelos com shampoo feminino e de ouvir rock clássico. Logo no primeiro encontro os dois se apaixonaram. Agora os sábados de Malú não são solitários porque ela tem um companheiro. Malú e Cadu se embebedam juntos, curtem uma baladinha de rock clássico juntos, vão a praia juntos, dormem juntos. Atualmente o balanço dos corações está sincronizado. Ambos estão prontos para ser um só. Aliás, são um só.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

(Outro) Cara estranho

Olha só como ele se movimenta... Parece uma barata tentando escapar de mais um jato do inseticida. Esse cabelo bagunçado, a barba por fazer, um cigarro nas mãos... Seus olhos piedosos pedem uma nova direção para vida maldita que leva. Não possui um ritmo. Desfila com sua camiseta de listras e de cabeça baixa. Tropeça em tudo, em todos. De longe a gente percebe que ele está a deriva. Nunca arrisca nada, nunca se esforça por nada, a não ser para demonstrar como seu coração é bondoso. Sua vida é como um tabuleiro de xadrez: imprevisível e de difícil compreensão para leigos e desinteressados. Seus objetivos não são impossíveis e mesmo assim ele prorroga sua batalha, ameaça nunca vencê-la. Olha só aquele cara... Se ele tentasse ser menos desarmônico nós ficaríamos juntos. Completaríamos todos os vácuos. Entenderíamos, de uma vez por todas, todo o caos que nos rodeia.

O encontro ( ou rabisco de crônica)

Há cinco anos eu faço e refaço este mesmo caminho cinza para chegar até o trabalho. Consigo descrever todos os detalhes dessa rua com os olhos fechados, desde o senhor que espera os filhos entrarem no veículo escolar até a árvore torta que abriga inúmeros ninhos de pardal. Admito que já fui apaixonada por essa mesma rua que hoje me dá enxaqueca, já amei cada árvore diferente e fotografei inúmeras flores que aparecem no canteiro central. Acho que nossa relação está monótona. Já não vejo mais aquele brilho, nem me encanto mais com as árvores tortas. 
Hoje, dia 25 de agosto de 2014, me pego pensativa. Perco-me nas ondas de questionamento que procuram um motivo concreto para o meu desgosto, meu desamor, meu desencanto. Tudo bem, tudo bem que se apaixonar por ruas não é muito normal -repito isso para mim mesma todas as manhãs- mas estimula nosso coração ser sensível para o amor. Só durante esse dia já fiz e refiz esse caminho três vezes: para chegar ao trabalho, voltar pra casa correndo porque precisava pegar os relatórios que esqueci na escrivaninha; e este que será o último. Meus olhos não procuram nenhum detalhe novo, refaço meu caminho a pé e om a cabeça baixa, ouvindo Noel Rosa. O entardecer está nublado, mas, agora não faz diferença alguma. Estou acostumada, entediada. Suspiro alto acelerando a locomoção do meu corpo cansado de passar o dia todo em frente a um computador planejando aplicações financeiras e cuidando de cálculos econômicos para o Banco do Brasil, me teletransporto para outras cidades e outras ruas bonitas. Confesso! Estava tão concentrada em novas emoções que quase deixei escapar a melhor coisa que poderia me acontecer durante essa semana, esse mês, esse ano. Tropecei em algo pequeno e peludo de nariz molhado. Tirei os fones. -Jesus, Maria e José!- exclamei alto. -Um...Cachorro...- Congelei ali mesmo. Claro que possuía um fraco por cães, mas nunca me aconteceu de encontrar um na rua... Ainda mais naquela rua tediosamente parada. O cachorro, por sua vez, tinha o corpo todo cinza e uma mancha branca no olho direito, uma carinha de vira-lata que aparecia de longe. Roçava seu corpo pequeno nas minhas pernas me pedindo carinho e claro, um lar. Sorri abertamente apanhando o filhotinho nas mãos, apertando seu corpo magro e gelado contra meu peito -Balú. Você tem carinha de Balú!- gargalhei. 
Agora, são exatamente 20 horas e 35 minutos de acordo com o horário de Brasília e eu me encontro no meu apartamento antigo, dentro da minha banheira branca dando banho em um vira-latinha que mudou meus pensamentos negativos e infelizes, me enchendo de alegria e vontade de sorrir dos atos falhos cometidos pelo mesmo. Um jazz embala minha primeira noite realmente animada, o leite será nosso jantar e minha velha câmera saiu do armário. Agora tenho uma família. Eu, Balú e as flores. As flores, Balú e eu. 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

passou

Nós terminamos rápido e eu demorei pra cicatrizar. Chorei, esperneei, esbravejei, supliquei, bati o pé, amaldiçoei você e seu novo amor. Fiz um eterno vendaval que tá se acalmando agora. Estou livre. Finalmente escapei dessa loucura. Estou tranquila. Renovada.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Santa ironia

Já parou pra pensar no quanto eu odeio sua ironia? A ironia que nos envolve? A irônica forma que você tem de me fazer sorrir? De me fazer mentir para minha mãe? De me fazer pensar em casamento? Cara, eu odeio isso. Odeio nossa ironia. Minha ironia. A ironia do nosso amor. Eu odeio odiar a nossa ironia. Porque ela me faz um bem danado. Porque ironicamente eu quero ficar com você. Porque nos encontramos de um jeito irônico. Simplesmente porque me envolvo ironicamente nos mais lindos pensamentos de amor. Sério, vê se não estraga tudo ok? Não estregue as coisas mais uma vez com seu ciúmes irônico. Seja franco e objetivo, porque não sei se você sabe, mas... Eu ODEIO ironia.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Sobre aquele outro texto

Você era alto demais, desastrado demais, tímido demais. Se embaralhava mais do que eu com as palavras, sorria pra esconder o nervosismo que eu fingia não perceber para não piorar nossa situação. Você  perguntou se eu gostava de músicas clássicas e passamos horas sentados naquele banco em frente a livraria discutindo sobre esse assunto. Você perguntava o tempo todo sobre a faculdade, o francês, o grego, o inglês e por uns dias achei que nossa única semelhança fosse Bob Dylan. Você me fez rir como nunca. Me comprou um saquinho de jujubas. Me fez ficar vermelha. Pisou seguidas vezes no meu pé, tropeçou no banco do cinema. Você, sozinho, também me ensinou inúmeras coisas. Como por exemplo, tocar teclado. Você me ensinou que sentar nas últimas poltronas do cinema é mais emocionante porque "é como se estivéssemos no mar e fossemos privilegiados com as últimas ondas geladas".Você me ensinou a fazer planos para o jantar de sexta. Você me ensinou ouvir outros vinis que não fossem Buarquenses. Você me ensinou surfar. Você, tão grandinho assim, me ensinou que o amor não exige muito de nós. Basta somente um beijo. Somente um abraço apertado. Somente um "fica por aqui". Se eu te amo? Ah, por favor, branquelo....Sou louca por você.