domingo, 25 de outubro de 2015

triste poema que não quis fazer

acreditar no seu amor seria ato de absoluta transgressão 
seria planejar um golpe de Estado
precisaria destruir minha constituição que já me é tão falha 
seria burlar todas as leis
todos os avisos que me impedem
seria colocar a Anarquia bem aqui dentro do meu peito
seria ver morrer um país 
desafiar a igreja 
sim, eu burlaria todas as leis 
desocuparia tudo o que um dia eu sorri 
aos 20 anos eu seria armada até os dentes
só pra te amar
só pra deitar no seu peito e cochilar 
só pra dizer que te odeio menos do que te amo 
seria transformar meu caderno utópico de poesias apaixonadas em revolução  
seria abandonar tudo de novo que me aparece
sim. acreditar no teu amor seria um ato de revolução
seria desmontar a calma que tão pouco me sobrou

mas já estou cansada demais pra ser vanguarda no amor
tô cansada demais pra lutar por tão pouca paz 
já não sou mais capaz de fazer do meu coração um órgão fora da lei dentro do meu corpo
que quer tanto ficar em paz 
só vou me ajeitar e terminar de beber 
vou só me ajeitar e esquecer
genocídio em mim 
 


sábado, 24 de outubro de 2015

ao som de chico

me deixei ali,
naquela esquina da rua laguna
naquele amontoado de nada
naquele emaranhado de eus
é que eu morri ao som de chico buarque
e engasguei com a censura que nem senti
chorei o divórcio que não tive
os filhos que nem tive
amantes que nem tive
e chorei ainda mais
pela vida que nem me teve
pela luta que não lutei
amores que nem amei
pelos vestidos que nunca usei
morri ao som de chico, e chorei
pela vida que não vivi
pelas vezes que não parti
por só ficar na espera e nunca emergir
chorei baixinho.
hoje, morri ao som de chico

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

..

sensação de que finalmente meu coração pode descansar tranquilo.

.

agora só preciso escapar da rotina
essa rotina que me é desgaste
essa rotina que me invade
me vira do avesso
me é desgaste
agora só preciso olhar além
mesmo que me seja desgaste
mesmo que me seja desgaste
pois na vida todo mundo cai
no mundo tudo cai
e a gente só vive de desgaste
na vida todo mundo é só
na vida tudo é desgaste

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

ensaio

quero mergulhar no corpo teu
quero me entregar 
e deixar que desmonte o meu
quero só me lembrar que talvez eu possa
talvez eu possa me entregar à você 
ao teu jeitinho de menino maroto 
que se sente só
que se sente disperso
aqui no meu coração tem muita bagagem 
muito desespero
e pouca coragem 
mas quero mergulhar em ti
e em tudo que tem em ti e me faz rir 
quero me abandonar no teu riso 
nos fazer sentir a mesma onda
o mesmo lance
o mesmo abraço
quero só me espalhar
sem ter que sair 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

tempo

uma dor me pega pelos braços
e não me deixa sossegar
se eu ao menos chorasse,
mas não consigo me livrar
minha garganta anda morrendo
com cada nó
que não se faz desatar

essa minha dor instiga feito soco na barriga
feito arrancar casquinha da ferida
e eu se quer consigo chorar
essa dor tá pintada em mim
feito quadro de rené
feito escultura de michelangelo
pré-renascimento de michelet

se ao menos eu chorrasse
só pra descansar
eu ando cansada do mundo
e cansada de respirar
meus braços pesam como máquinas
e as pernas se recusam andar
se ao menos eu chorasse,
só pra me livrar
se ao menos você chegasse
só pra me cuidar

desabafo

já não sou canção,
já não tenho mais nada
só emoção
hoje eu não sou canção
e talvez nem volte a ser
aquela primavera apagou bonito
e eu nem pude ver
hoje eu não sou canção
sou só desespero
tô do avesso
sou devaneio
ser canção não é ser assim
ser canção não é pensar em desistir
ser canção não é cansar de existir
hoje eu só quero um canto, pois não sou mais canção
me jogo na cama, suspiro, cambaleio pro chão
ah, como eu queria ser canção
mas dentro aqui do meu peito tem um buraco
meu rosto arde feito vulcão
por que é que é tão difícil?
só queria nos fazer canção