quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

veranizar

sinto a grama verde acariciar meus dedos do pé
encho meu pulmão de ar e gosto do que sinto
respiro
é como se agora eu me revivesse em poema
e me reinventasse
inalo o aroma que suavemente me embriaga os olhos
ouço os pássaros cantarem como se celebrassem a vida
como se agradecessem esse céu imenso e azul
é como se eu me revivesse num poema
é como se a água que cai inundasse meu corpo
e, na mesma proporção que o esfria, o reconstrói
respiro
o vento me afaga os cabelos, que dançam inquietamente
é como se agora eu me revivesse num poema
já não mais tenho pulmão pra respirar tanto beleza
já não mais tenho olhos que aguentem tanta delicadeza
tanto poema
mas não me importa
é como se agora eu me revivesse em poema  

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

05:05 am

esse teu olhar tão mesquinho, teu jeito de amar
fui te amando tão sozinha, rindo quando queria chorar
me vi carregando o peso dos enganos
dos sonhos que me mentiu
esse teu jeito narcisista, de rir quando quer chorar
te amei como uma insana
mas não me lembro do que me deu
te amei como uma insana
já nem lembro o que me deu
me enganei imaginando anos
quis ir até pra igreja, tenho coração de ateu
meu bem, eu queria ser casa e abrigo teu
te amei imaginando anos
já nem me lembro do que me deu
rezei tanto pelos danos, e tenho coração de ateu
te amei imaginando anos
e a vida me esqueceu, nesse meu cotidiano
tem tudo menos eu
e o que me sobrou de humano
ensaia te dizer adeus



segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

mar

estou agora sentada à imensidão do mar
as ondas chegam de mansinho
e de mansinho me roubam de mim
o silêncio se apropria desse cantinho aqui 
e nesse cantinho eu observo o mar
que é vento 
sinto o vento
poucos são os que sentam-se à imensidão do mar
e observam as curvas das ondas e as estripulias que a água faz
feito fosse água viva
mas que força a água tem senão a de ter força alguma?
o que tem de tão forte é não sucumbir aos desejos do vento
que invade
dei-me conta um tanto tarde de não tentar resistir a nada, feito a água
que se por disponível aos ventos de tudo é uma das mais bonitas versões
da coragem  
da paz
tranquilidade
e o vento carrega a água mostrando que todos os rochedos que é lançada
são partes do seu caminho tranquilo rumo a não saber onde vai
e  a água vai passando por ali, aceitando-os sem tentar resistir
derrubá-los
fugir
e eu que tanto quis resistir 
que já criei tantos tsunamis em mim 
vejo-me agora, dançando feito água
já não me encanta saber se tenho rumo
ou tampouco pensar nisso
já não mais imploro que me amem, ou que queiram me amar, que me esperem
que voltem, que me sigam 
vendaval passa
rochedos ficam para trás
e eu serei quem tiver de ser
quem eu conseguir construir a ser
serei somente quem for e nenhum palmo além disso
ser água é ir
e eu vou 
meu encantamento encontra-se em não pensar, somente seguir
reduzida a mim, eu vou.