domingo, 30 de novembro de 2014

Lipstick

Em meio ao barulho e alguns copos de cerveja, ele fumava um cigarro. A gente sorria mansinho e trocava carinhos, beijos, segredos. Ele tímido como só ele, dedilhava suas canções no meu violão solitário. Algazarra.  Em meio ao barulho e vários copos de cerveja, ele questionava o batom vermelho. A chuva caia lá fora convidando atos amorosos. Em meio ao barulho e beijos no pescoço, nós conversávamos sobre quadrinhos e finais felizes. E com o propósito de deixá-lo com marcas de mim, bordei de batom vermelho seu peito, pescoço e lábios. Como quem não quer nada, nos deixamos amar e descansar na mais bela trilha sonora.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

sentimentalismo

 Ele tem mais tatuagens do que eu, ele já beijou mais vezes que eu, ele já amou mais vezes. Ele já se perdeu por demais. Já criou mais gatos, já provou mais pratos, já viajou. Ele já se livrou mais vezes. Já bebeu, já transou. Já idealizou mais pessoas do que eu. Já se entregou com mais intensidade.  Já ousou mais. Ele já fugiu mais que eu. Aliás, ele sempre foi mais do que eu. Sempre quis mais de mim do que eu mesma quero.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Besteiras de um dia sem sol

deixei que entrasse,
deixei que ficasse,
deixei que amasse, 

deixei que ouvisse meus prantos,
deixei que cantasse meus cantos,
deixei que deitasse ao lado meu,
deixei, acima de tudo, que fosse meu
deixei que me vivesse
deixei-me vivê-lo, 
deixei por deixar
amei por gostar 

quis que gritasse como eu grito, 
quis viver e entregar-te o riso
quis cantar bonito, e além disso
ser aquele seu compor que não não é entendido.

Um suspiro

Me chegou um pouco cansado e cheio de nada. Me ofereceu lindas poesias e lindos sonhos. Me carregou pela porta, me levou na torre, me ouviu cantar amores. Me olhou com olhos sinceros e distribuiu beijos discretos, saudosos. Me veio como quem não queria nada. Me convidou pro café, me abraçou e eu nem fugi. Me deixou deitar ao seu lado, me deixou ouvir sua respiração, me deixou despir. Me emprestou camisas, me deixou morar ao lado de seu peito. Me deixou ouvi-lo. Me deixou ser o que eu bem quisesse. Me deixou fazer o que eu bem entendesse. Me  deixou quebrar essas besteiras de regras gramaticais. Me deixou amar em paz.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

minhas percas

Eu comprei filmes que nunca vi
amontoei livros que nunca mais li,
comprei vinhos que nunca bebi.

Eu escrevi textos que jamais mostrei,
compus músicas que nunca cantei,
comprei vestidos mas nunca usei.

Já amei tanto que nem queria
já disse sim, mas não devia
e cantei a mais triste melodia.

Fiz promessas mas nunca cumpri
e quis gostar de filmes,
dos quais eu nunca entendi

Ensaiei amores que nem amava,
comecei centenas de textos
mas sempre os apagava

estudei países mas não parti.
ganhei beijos e não sorri
chorei músicas que nem ouvi.

E no fim,
tudo terminou com um tropeço
um deslize, uma queda
diretamente direcionada
á perca

E no fim,
eu acabei só,
acabei sendo a perdedora de mim.

que nem é de ninguém

Porque a gente sempre espera contar com um "estou aqui" mas, nada, nada de ninguém estar aqui.
A gente é sempre só. A gente é toda só. Eu sei que no fundo a gente espera ter alguém pra conversar, mas no fim, vem só o silêncio pra nos avarandar. Pois é tanta gente no mundo, tanta gente e a gente aqui correndo atrás de mais gente só. 
E a gente segue entrando cada vez mais dentro da gente, tentando se desprender dos dias ruins. Mas nada, nada de alguém sorrir. E eu sei que no fundo isso é tudo o que a gente quer; poder enfim se despedir. No fundo, eu acho que a gente só quer partir. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ela que se foi

Ela escapou entre seus dedos e foi ocupando um lugar mórbido. As flores que viviam coloridas em seu vestido, murcharam, derreteram e aos poucos foram ficando cinzas. A moça corre desanimada. Se apoia em velhos corrimãos solitários que mal se sustentam, pouco a pouco vão se esfarelando devido ao peso da pobre alma feminina. Você sente pena e se condena por não conseguir erguê-la, mas, o que poderia você fazer? A garota já se foi. Perdeu-se nas confusões e nas notas musicais que carregava no bolso sem ao menos se despedir de você. De você...