sábado, 24 de outubro de 2015

ao som de chico

me deixei ali,
naquela esquina da rua laguna
naquele amontoado de nada
naquele emaranhado de eus
é que eu morri ao som de chico buarque
e engasguei com a censura que nem senti
chorei o divórcio que não tive
os filhos que nem tive
amantes que nem tive
e chorei ainda mais
pela vida que nem me teve
pela luta que não lutei
amores que nem amei
pelos vestidos que nunca usei
morri ao som de chico, e chorei
pela vida que não vivi
pelas vezes que não parti
por só ficar na espera e nunca emergir
chorei baixinho.
hoje, morri ao som de chico

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